[A Saga do Cão Guia] - Capítulo 3
Última modificação: 04/05/2020
Provavelmente a quarta-feira era o dia mais esperado da semana. Afinal, seria o dia que conheceríamos nossos cães guia pela primeira vez, um dia que todos estavam esperando por meses, ou até mesmo anos, como no meu caso.
Às 6 da manhã todos já estavam em pé para treinar as sessões de obediência. Tais sessões foram como uma revisão dos comandos que eles sabem. Fazemos isso afim deles sempre continuarem fazendo a coisa certa, e caso aja algum erro, corrigi-lo o mais rápido possível. Terça e quarta, como não tínhamos o cachorro, os instrutores só nos mostraram como isso deveria ser feito quando os tivéssemos. Depois disso, tivemos um tempo para nos arrumar, fazer algumas coisas no quarto, e já veio o café da manhã, que cada dia eu gosto mais. Ontem tivemos umas vinas (salsichas no dialeto dos caipiras), com french toast, que é uma espécie de…. Pão doce - não sei algo melhor para descrever isso aí.
Durante a manhã toda tivemos algumas aulas de como cuidar do cachorro. Dentre as várias coisas que foram citadas que não acho que seja necessário escrever aqui para não deixar o texto gigante, trouxeram alguns cachorros que já se aposentaram como cães guia para treinarmos como colocá-los em baixo de cadeiras para que fiquem seguros, onde deixá-los quando estamos na mesa de jantar para que não se machuquem, como colocar o equipamento corretamente, algumas questões teóricas sobre o comportamento inicial deles, como fazer que eles se apeguem a nós. Enfim, é muita coisa.
O nosso almoço, como disseram, foi o último almoço em paz que teríamos, e só depois eu fui descobrir por que. Acho que foi o almoço mais rápido que tivemos, pois todos queriam ir para a sala de aula onde saberíamos o nome, raça, cor e sexo dos nossos cachorros.
Todos reunidos nessa tal sala, tivemos um jogo bem legal. Eles passavam algumas pistas para que você descobrisse o nome do seu cachorro. - “Já assistiu Lessy, Lucas?” – “É o nome do dono da Lessy, o menininho”. E eu não sabia!!!! Eu assisti esse filme há tanto tempo, e nem sei se foi inteiro, que não tinha a mínima ideia. A minha sorte que um colega de turma sabia e me contou. Consegui adivinhar o nome de outros cachorros, o que era bem legal, mas normalmente era difícil porque envolvia completar um verso de um poema famoso em inglês, misturar palavras, essas coisas.
Tivemos mais algumas instruções de como cuidar do cachorro, visto que eles levariam cada cachorro no quarto de cada dono, para que passassem a tarde se acostumando um com o outro. No momento que bateram a minha porta, depois de tê-la abrido rapidamente, fui apresentado ao meu mais novo amigo. Um amigo que espero ficar por muitos e muitos anos. Então sem mais demoras, apresento-lhes Timmy!!!
Ele é um labrador, acredito que seja de porte médio. Ele é amarelo, e o pelo dele eu achei muito macio. Postei algumas fotos dele no meu twitpic, então para quem quiser ver Elas Estão Aqui.
Logo que ele entrou no quarto, ele pulou sobre mim, me cheirou, me lambeu e foi explorar o resto do quarto. Por um segundo eu imaginei que as coisas seriam um pouco diferente do que os instrutores disseram que seriam, mas foi só a treinadora dele ir embora que tudo começou. Os cães não estão acostumados com seus novos donos. Eles tem uma rotina bem definida há mais de 6 meses, que é viver no canil, correr e brincar de manhã, treinar com os treinadores deles nas ruas, shoppings e tudo que é tipo de lugar. Uma vez que essa rotina deles muda totalmente, eles demoram um pouco para se acostumarem, mas depois de um tempo eles chegam lá. Acho que por meia hora, depois de ter cheirado o meu quarto inteiro, ele só queria ficar sentado na frente da porta, olhando para ela. Logicamente, ele não queria ficar ali; Ele queria voltar junto da treinadora dele, que provavelmente estava algumas salas ao lado. A coisa começou a piorar quando os cães dos outros alunos começaram a chorar, e o Timmy chorou também, pra minha felicidade, bem mais baixo que os outros. Sim, o começo é o mais difícil.
As pessoas talvez achem que como nós estamos querendo tanto esse cachorro, chegaremos aqui de braços abertos e eles vão pular em nossos braços e serem melhores amigos já de cara. Infelizmente não funciona assim. Como se resolve isso? Era o que todos queriam saber, e que foi explicado. Como falei, quebramos a rotina que eles tinham. Eles não sabem direito o que está acontecendo, e até se acostumarem será assim mesmo. Como agora somos responsáveis por alimentá-los, cuidar deles, praticar as sessões de obediência, com o tempo eles vão se apegando a nós. Depois eu e Timmy brincamos um pouco no quarto, eu o alimentei. Quando vamos alimentá-los, deixamos eles presos ao lado da cama, em uma espécie de coleira, perto da gaiola que eles estão acostumados a dormir nos canis. Quando percebi, ele já estava deitado em cima da minha cama. Dei alguns comandos bruscos para que ele saísse, e ele atendeu prontamente. Os treinadores falaram que isso aconteceria algumas vezes, porque eles estão testando os limites deles. Eles já foram ensinados que não podem fazer isso, mas certos hábitos sempre vão permanecer, mas podem ser controlados. Ontem ele pulou pelo menos 3 vezes em cima da minha cama, mas hoje, quinta-feira, quando estou terminando de terminar o texto de ontem (hahaha, não tive tempo mesmo), ele não subiu nenhuma vez.
Depois disso, levamos os cães ao banheiro, o que chamamos de parktime. Basicamente ficamos em um lugar aberto, seguindo uma série de procedimentos para que eles saibam que é a hora certa de fazerem suas necessidades. E então, finalmente, tivemos o jantar, aonde eu vim a descobrir porque aquele havia sido o último almoço em paz que eu tive. Às vezes é um pouco complicado no começo colocar os cães na posição correta que eles devem ficar à mesa para que não se machuquem caso alguém arraste uma cadeira, pise neles, etc. O problema é que isso não basta. Eles tendem a se mover, e você tem que fazer as correções necessárias, o que no começo é toda hora. À noite, mais aulas com termos técnicos de como cuidar dos cães, como proceder nas rotinas, que é algo que acho que vou começar a excluir dos textos porque não me sinto capaz de explicá-los corretamente. Algumas coisas são incompletas, justamente pelo fato que estamos aprendendo e são complementadas depois.
Antes de dormir fizemos um último parktime, que demorou uns 10 minutos. O problema disso que foi lá fora, onde a temperatura era por volta de 39 Fahrenheit, ou seja, frio pra caralho. Essa é uma coisa que acho estranho demais nos americanos. Eles usam poucas medidas baseadas no sistema decimal, o que não é intuitivo. Por exemplo, essa merda de Fahrenheit, já me pregou uma peça. No segundo dia estavam 30 Farenheit, o que corresponde a -1,11 C. Quando ouvi 30 fahrenheit, eu não pensei que era Celsius, mas também não dei bola que era fahrenheit… Pensei que seria um pouco mais quente. Ignorância total. Fui só com uma calça, e morri de frio. Veja só, 39 fahrenheit, você pensa que as coisas vão melhorar bastante, não é? Que nada, isso corresponde a 3.88 C, o que ainda não faz o menor sentido. Sem falar nas milhas por hora, libras, pés de altura, porra!!!!! Pelo menos para adoçar o café eles usam a medida em colheres, como nós. Eles são o único país do mundo que usam tais medidas, então eu tenho todo o direito de reclamar.
Estou muito feliz com ele. O Timmy parece ser um cachorro bem animado e amável, e pouco a pouco estamos nos conhecendo, acho que em uma semana já seremos grandes amigos, quando ele se acostumar comigo.
Comentários do Discuss estão desativados.