A Globo e seus Coitados
Última modificação: 04/05/2020
O mundo já é cheio de estereótipos. Se você tem uma deficiência então, ganha-se muitos outros automaticamente. No caso da cegueira, personagens cegos na maioria das vezes são retratados seguindo duas vertentes: o coitado inútil e o herói poderoso.
A Globo, mais uma vez, coloca um personagem cego em uma de suas novelas. Eu não assisto novela, acho que isso eu nem preciso dizer. Mas fiquei impressionado com algumas poucas cenas que me foram descritas deste tal cego, que nem consegue saber se está de dia ou de noite. Acho que esqueceram de apresentar ao “roteirista” o conceito do relógio.
Em uma pesquisa que fiz aqui, essa não é a primeira vez que isso acontece. Nas novelas América, Caras e Bocas e na mais recente, Amor a Vida, os mesmos problemas já foram observados. Personagens cegos que são menos do que pessoas, agindo feito como se fossem retardados!
Por que eu me importo, talvez seja a questão correta. Infelizmente o alcance que essas novelas possuem é enorme. Quer queira, quer não, o que será mostrado lá será base de julgamento para muita gente no nosso país, retrocedendo em décadas o trabalho de inclusão que é feito.
A desinformação sempre foi o maior problema para as pessoas com deficiência ao relacionarem-se com outras pessoas, e ao levantarem esses estereótipos de maneira tão caricata e estúpida, tudo só piora e se agrava.
A cena que fiquei sabendo mostrava este cego aproximando-se da piscina, caindo nela e se afogando. Esse mesmo cego que quando enxergava, dono da casa, sabia nadar. Eu não sabia que precisa-se de um par de olhos para nadar, se eu soubesse, não teria feito anos de aula de natação. Desculpem o atrevimento.
Ouvi dizer também que a intenção do “roteirista” era representar as dificuldades de uma pessoa que acabou de ficar cega. Imagino que dificuldades não implicam em atraso mental, coisa que o personagem parece mostrar só para piorar essa imagem caricata de coitado. Além disso, como já comentei, as dificuldades mostradas não chegam nem perto do que seria a realidade. Enquanto usarem personagens cegos para mostrarem coitados ou heróis, apenas estarão fazendo um desserviço e prejudicando a imagem dessas pessoas, que tentam diariamente combater esses preconceitos e estereótipos que as perseguem.
No dia que puserem uma pessoa com uma deficiência, que viva sua vida da maneira que ela realmente vive e esse foco absurdo na superação, independência, a deficiência em si for eliminado, teremos uma melhoria. Afinal, eu não vivo aqui o dia inteiro me lamentando ou pedindo se é dia ou noite, pelo contrário, eu tento viver minha vida da melhor maneira possível e acabo fazendo a maioria das coisas que todas as outras pessoas fazem. Isso sim é mostrar o que é inclusão e o que é a realidade.
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